Foi em 1913, na cidade do Rio de Janeiro, que nasceu, em meio a um forte temporal, Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta (amigo de Olavo Bilac), violonista e cantor de modinhas, que iniciaria Vinicius na música. O tio mais moço, boêmio e seresteiro, também exerceu forte influência sobre ele. Além de sua mãe, Lydia Cruz, e o avô, que eram hábeis pianistas.
Como é possível notar, nascido no seio de uma família de músicos (e de poetas!), Vinicius, tal como Bach, terá forte presença dessa arte superior, que é a música, por toda sua vida.
Além dessas semelhanças, no mínimo curiosas, há algo maior que o liga ao mestre de Eisenach. Dentre os parceiros de Vinicius (...e eles não são poucos. Só para citar os mais conhecidos: irmãos Tapajós, Paulinho Soledade, Vadico, Pixinguinha, Adoniran Barbosa, Carlos Lyra, Baden Powell, Francis Hime, Villa-Lobos, Chico Buarque, Tom Jobim, Toquinho etc.), Bach foi o mais inusitado de todos porque, obviamente, já estava morto e jamais tomou conhecimento de tal negócio! Em1961, a Banda do Corpo de Bombeiros fluminense gravou "Rancho das Flores", marcha-rancho com versos do poeta sobre tema de "Jesus, Alegria dos Homens", do compositor clássico alemão.
Vinicius de Moraes foi diplomata, músico, boêmio, advogado, crítico de cinema e, sobretudo, poeta, que se auto-intitulava o "branco mais preto do Brasil".
Um crítico certa vez disse que Vinicius era um homem plural, e que essa pluralidade era percebida nas várias atividades que o poeta desenvolveu, nos vários amores que teve (seus biógrafos afirmam que teve, oficialmente, 9 mulheres), e no próprio nome: Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes.
Como diplomata, ele residiu em várias capitais do mundo. Além de formado em Direito, foi agraciado com a primeira bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford.
Como é possível notar, nascido no seio de uma família de músicos (e de poetas!), Vinicius, tal como Bach, terá forte presença dessa arte superior, que é a música, por toda sua vida.
Além dessas semelhanças, no mínimo curiosas, há algo maior que o liga ao mestre de Eisenach. Dentre os parceiros de Vinicius (...e eles não são poucos. Só para citar os mais conhecidos: irmãos Tapajós, Paulinho Soledade, Vadico, Pixinguinha, Adoniran Barbosa, Carlos Lyra, Baden Powell, Francis Hime, Villa-Lobos, Chico Buarque, Tom Jobim, Toquinho etc.), Bach foi o mais inusitado de todos porque, obviamente, já estava morto e jamais tomou conhecimento de tal negócio! Em
Vinicius de Moraes foi diplomata, músico, boêmio, advogado, crítico de cinema e, sobretudo, poeta, que se auto-intitulava o "branco mais preto do Brasil".
Um crítico certa vez disse que Vinicius era um homem plural, e que essa pluralidade era percebida nas várias atividades que o poeta desenvolveu, nos vários amores que teve (seus biógrafos afirmam que teve, oficialmente, 9 mulheres), e no próprio nome: Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes.
Como diplomata, ele residiu em várias capitais do mundo. Além de formado em Direito, foi agraciado com a primeira bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford.
O que é uma antologia
Antes de qualquer coisa é preciso definir o que vem a ser "antologia". Antologia significa, etimologicamente, "coletânea de flores"; o termo remete à ideia de escolha, coleção. Sendo assim, antologia é uma coleção de trabalhos literários; neste caso, coleção de trabalhos poéticos.
A importância de se ler uma obra como esta ("Antologia Poética") está no fato de que estamos tendo contato com uma seleção de poemas feita pelo próprio autor.
A importância de se ler uma obra como esta ("Antologia Poética") está no fato de que estamos tendo contato com uma seleção de poemas feita pelo próprio autor.
A divisão da obra de Vinicius
A obra poética de Vinícius de Moraes é tradicionalmente dividida pela crítica em três fases distintas.
A primeira inicia-se em 1933 e abrange os livros O caminho para a distância (1933); Forma e exegese (1935); Ariana, a mulher (1936). Nesse período encontramos um poeta místico, que escrevia versos longos, de tom bíblico-romântico, de espiritualidade católica e visionária. O próprio poeta caracterizou esta fase como "o sentimento do sublime". Na "Advertência" à sua Antologia Poética ele afirmava que "a primeira [fase], transcendental, frequentemente mística, [era] resultante de sua fase cristã".
A segunda fase (ou como se costuma dizer: o segundo Vinicius) tem inícioem Cinco Elegias , de 1943. O novo tom, a nova linguagem, as novas formas e temas, que vinham desde Novos poemas, de 1933, intensificam-se e diversificam-se nos livros posteriores - Poemas, sonetos e baladas (1946) e Novos poemas II (1959) -, em que se mostram tanto as formas clássicas (soneto de tradição camoniana e shakespeariana) quanto a poesia livre (em "A última elegia", os versos têm forma de serpente). O poeta sente-se à vontade para inventar palavras, muitas vezes bilíngues, ou praticar a oralidade maliciosa.
Por haver nessa fase uma renúncia à superstição e ao purismo fortemente presentes na primeira, bem como um direcionamento para uma atitude mais brincalhona e amorosa perante a poesia, essa segunda fase ficou conhecida como "O encontro do cotidiano pelo poeta".
Nessa passagem do metafísico para o físico, do espiritual para o sensual, do sublime para o cotidiano, o poeta retoma sugestões românticas (como lua, cidade, samba). Refugia-se no erotismo: há contemplação do amor, poemas "sobre a mulher" e adoração panteística da natureza. Compôs também poemas de indignação social, cujos exemplares são: "Balada dos mortos dos campos de concentração", "O operário em construção" e "A rosa de Hiroxima".
O terceiro Vinicius é o compositor, letrista e cantor. Autor de mais de trezentas músicas (como atesta seu Livro de letras, lançado postumamente, em 1991, onde estão mais de 300 letras de músicas de sua autoria), difundidas pelo mundo com o grande acontecimento cultural e musical que foi a bossa nova. Seus parceiros, como vimos, vão desde Bach a Toquinho.
Embora a crítica fizesse (faça) tal divisão, colocando de um lado o poeta e de outro o showman, Vinicius nunca concordou que houvesse diferença entre seus sambas e seus poemas escritos, pois para ele tudo era igual.
A primeira inicia-se em 1933 e abrange os livros O caminho para a distância (1933); Forma e exegese (1935); Ariana, a mulher (1936). Nesse período encontramos um poeta místico, que escrevia versos longos, de tom bíblico-romântico, de espiritualidade católica e visionária. O próprio poeta caracterizou esta fase como "o sentimento do sublime". Na "Advertência" à sua Antologia Poética ele afirmava que "a primeira [fase], transcendental, frequentemente mística, [era] resultante de sua fase cristã".
A segunda fase (ou como se costuma dizer: o segundo Vinicius) tem início
Por haver nessa fase uma renúncia à superstição e ao purismo fortemente presentes na primeira, bem como um direcionamento para uma atitude mais brincalhona e amorosa perante a poesia, essa segunda fase ficou conhecida como "O encontro do cotidiano pelo poeta".
Nessa passagem do metafísico para o físico, do espiritual para o sensual, do sublime para o cotidiano, o poeta retoma sugestões românticas (como lua, cidade, samba). Refugia-se no erotismo: há contemplação do amor, poemas "sobre a mulher" e adoração panteística da natureza. Compôs também poemas de indignação social, cujos exemplares são: "Balada dos mortos dos campos de concentração", "O operário em construção" e "A rosa de Hiroxima".
O terceiro Vinicius é o compositor, letrista e cantor. Autor de mais de trezentas músicas (como atesta seu Livro de letras, lançado postumamente, em 1991, onde estão mais de 300 letras de músicas de sua autoria), difundidas pelo mundo com o grande acontecimento cultural e musical que foi a bossa nova. Seus parceiros, como vimos, vão desde Bach a Toquinho.
Embora a crítica fizesse (faça) tal divisão, colocando de um lado o poeta e de outro o showman, Vinicius nunca concordou que houvesse diferença entre seus sambas e seus poemas escritos, pois para ele tudo era igual.
Alguns poemas
Selecionamos alguns poemas representativos da primeira e segunda fase do poeta para uma breve análise. Demos maior ênfase aos sonetos que, como se sabe, é o forte da poesia de Vinícius. Vejamos:
Ausência Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. Rio de Janeiro, 1935 |
Os sonetos
Ao escrever sonetos, Vinicius de Moraes soma-se à distinta lista de poetas que versejaram em língua portuguesa, tais como Camões, Gregório de Matos, Bocage, Antero de Quental, Olavo Bilac, entre outros, e que escolheram como forma de expressão esta composição poética clássica.
Tudo isso faz do soneto uma escolha formal lúcida para o poeta. Porque aí se observa a clareza e a concisão de linguagem, de características clássicas. Com ela, o poeta mantém a expressão de um lirismo controlado, ou seja, o sentimento e a emoção líricos contêm-se nos limites do equilíbrio e da harmonia. O poeta procura atenuar os impulsos do "eu", isto é, de sua subjetividade particular, em favor de uma visão impessoal ou objetiva. Daí dizer que nos sonetos existe a luta de um "eu" que ama e um "eu" que raciocina.
Tudo isso faz do soneto uma escolha formal lúcida para o poeta. Porque aí se observa a clareza e a concisão de linguagem, de características clássicas. Com ela, o poeta mantém a expressão de um lirismo controlado, ou seja, o sentimento e a emoção líricos contêm-se nos limites do equilíbrio e da harmonia. O poeta procura atenuar os impulsos do "eu", isto é, de sua subjetividade particular, em favor de uma visão impessoal ou objetiva. Daí dizer que nos sonetos existe a luta de um "eu" que ama e um "eu" que raciocina.
Soneto de separação Oceano Atlântico, a bordo doDe repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma 1 E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. Highland Patriot, a caminho da Inglaterra, 09.1938 |
Esse dinamismo expresso no soneto revela, sob certo aspecto, a própria inconstância na vida amorosa de Vinicius.
Soneto de fidelidadeDe tudo, ao meu amor serei atento Estoril - Portugal, 10.1939Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa lhe dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que2 é chama Mas que seja infinito enquanto dure |
Comentário: Este é um dos mais conhecidos e apreciados sonetos de Vinicius de Moraes. Observam-se nele a clareza e a concisão de linguagem, características clássicas que substituem a tendência alegórica e o derramamento declamatório dominantes na fase inicial do poeta.
Livros
- O Caminho para a Distância (1933)
- Forma e Exegese (1935)
- Ariana, a Mulher (1936)
- Novos Poemas (1938)
- Cinco Elegias (1943)
- Poemas, Sonetos e Baladas (1946), também conhecido como O Encontro do Cotidiano (1968)
- Pátria Minha (1949)
- Antologia Poética (1954)
- Livro de Sonetos (1957)
- Novos Poemas (II) (1959)
- Para Viver um Grande Amor (Crônicas e Poemas) (1962)
- A Arca de Noé; Poemas Infantis (1970)
- Poesia Completa e Prosa (1998)
- As vinte moedas (1998)
Teatro
- "As Feras"
- "Cordélia e o Peregrino"
- "Orfeu da Conceição"
- "Procura-se uma Rosa"
- As doze bailarinas
- Como ser Bode